sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Cientistas criam sistema capaz de teletransportar imagens

Paloma Oliveto - Correio Braziliense

Publicação: 04/11/2010 09:31 Atualização:

Nasser Peyghambarian, principal pesquisador do estudo, diz que sistema tem aplicação poderosa (Universidade do Arizona/ Divulgação )
Nasser Peyghambarian, principal pesquisador do estudo, diz que sistema tem aplicação poderosa
O cientista Nasser Peyghambarian evoca a célebre cena do filme Guerra nas estrelas na qual o robô R2-D2 projeta uma imagem em três dimensões da princesa Lea, que transmite uma mensagem à trupe de Luke Skywalker. Essa passagem, que na década de 1970 seria inimaginável longe das telas do cinema, está prestes a virar realidade, garante o professor e pesquisador da Universidade do Arizona. Graças a uma nova tecnologia de imagens holográficas desenvolvida na Faculdade de Ciências Óticas, em um futuro próximo objetos e pessoas poderão viajar de um canto a outro do mundo sem qualquer tipo de deslocamento.

Publicado na capa da edição de hoje da revista especializada Nature, o resultado do projeto norte-americano é um sistema que capta e transmite imagens em três dimensões praticamente em tempo real. Para os autores do estudo, as aplicações da nova tecnologia poderão ser enormes, desde a publicidade até a telemedicina. Em uma webconferência de imprensa, Peyghambarian lembrou que, há dois anos, a mesma Nature publicou um artigo no qual sua equipe descrevia um aparelho de 12cm capaz de gerar uma imagem — de uma só cor — a cada cinco minutos. “Nos últimos dois anos, conseguimos reduzir a velocidade de transmissão de cinco minutos para poucos segundos. E temos também outras cores e mais perspectivas”, explica. Embora o experimento descrito na Nature só tenha transmitido imagens em verde, a equipe já está desenvolvendo uma tecnologia multicolorida.

O novo sistema é baseado em um polímero fotorrefrativo, aparelho que pode atualizar imagens holográficas rapidamente, o que trouxe maior realismo à transmissão tridimensional. Os sinais são enviados, e o laser os decodifica no display fotorefrativo, projetando a imagem em três dimensões e quase em tempo real, com um atraso de apenas dois segundos.

“Esse avanço nos deixa um passo mais perto do último objetivo da holografia realística: imagens de alta resolução, totalmente coloridas, do tamanho de um ser humano e que podem ser enviadas em velocidade rapidíssima de uma parte do mundo a outra”, comemora Pierre-Alexandre Blanch, um dos autores do estudo. “A descoberta abre novas oportunidades na área ótica, como um meio de transporte de imagens em tempo real. Um sistema como esse pode ter um importante impacto na telepresença, na telemedicina, na engenharia de design e na fabricação de produtos, entre outras aplicações. É um resultado tremendamente importante”, considera Lynn Preston, diretor do Centro de Pesquisa em Engenharia NFS, que ajudou a financiar o projeto.

Sem óculos

Em entrevista ao Estado de Minas por e-mail, Peyghambarian explica que, até agora, não existem tecnologias tridimensionais que criem um ambiente realístico, apesar dos avanços do cinema 3D, que encanta os telespectadores com objetos que parecem saltar da tela. Segundo o cientista, os filmes tridimensionais oferecem apenas duas perspectivas: cada uma captada por um dos olhos. Além disso, são necessários óculos especiais, equipamento dispensável no caso da técnica descrita na Nature. No experimento, o objeto foi filmado por 16 câmeras, que registravam a imagem em diversos ângulos, permitindo que o display fotorefrativo a decodificasse em 16 diferentes perspectivas.

“No nosso caso, demonstramos 16 perspectivas, mas essa tecnologia tem capacidade de mostrar centenas de perspectivas, então é muito próximo do que os humanos podem ver ao seu redor, no dia a dia”, afirma o cientista. "Os humanos foram feitos para enxergar coisas em três dimensões. Quando você move sua mão para a direita, para a esquerda, para cima ou para baixo, você enxerga em diferentes perspectivas. O que demonstramos agora é algo muito semelhante a uma imagem real.”

O sistema, embora represente um grande avanço comparando-se à pesquisa de dois anos atrás, precisa ser aperfeiçoado até que uma cena como a de Guerra nas estrelas torne-se não só possível, mas corriqueira. De acordo com Peyghambarian, a equipe de pesquisadores está trabalhando em ajustes, como a redução ainda maior da velocidade, que passará de quatro segundos entre transmissão e decodificação para frações de segundos. A resolução da imagem também precisa ser maior, assim como o sistema de cores. "Quando fizermos as alterações que faltam, estaremos diante de objetos tão reais que tentaremos pegá-los no ar", garante.


Entrevista/Nasser peyghambarian


Qual é a maior diferença entre a tecnologia que os senhores apresentaram em relação ao 3D e à telepresença?

Se você assistir a um filme em 3D, você só consegue enxergar em duas perspectivas, o que significa que há uma polarização de um olho e uma polarização do outro. Assim, você pode ver e perceber o objeto no ar. Mas a partir de duas perspectivas apenas. No nosso caso, são diversas perspectivas. Em outras palavras, a pessoa sentada diante de uma mesa pode olhar o holograma que parece estar realmente em cima dessa mesa. Você vai ver, tentar pegá-lo, mas ele não estará lá. Outra pessoa sentada na outra ponta da mesa, verá a imagem em outra perspectiva, assim como quem está sentado de lado. Isso significa mais realidade ao objeto. No dia a dia, vemos centenas de perspectivas na natureza, e a nossa tecnologia é o que há de mais próximo disso. O que temos hoje na telepresença são imagens em alta resolução, mas sem profundidade. Ou seja, não é holografia, não é a verdadeira telepresença, pois você não tem todas as perspectivas do objeto, não pode ver de frente, de trás, de lado...

Quais as principais aplicações da tecnologia, além da telemedicina?

Em uma cirurgia, as câmeras estarão ao redor do paciente, então médicos de diferentes partes do mundo poderão participar, vendo as coisas exatamente como se estivessem lá. Além disso, vemos muitas aplicações, incluindo, por exemplo, o processo de design de produtos. O engenheiro ou o desenhista industrial pode fabricar o holograma de um novo carro, observar o modelo e ir fazendo mudanças, sem gastar muito e de forma rápida. Na publicidade, o sistema holográfico vai chamar mais a atenção do consumidor, pois a pessoa pode olhar o produto de vários ângulos. Na área da telepresença, essa pode ser uma aplicação muito poderosa. Você não precisará mais viajar quilômetros pelo mundo, então você economiza energia, meio de transporte e recursos, participando de um evento apenas sentando no seu escritório. Há muitas aplicações que nem conseguimos pensar agora, mas, assim que a tecnologia estiver disponível, as pessoas vão criar novas aplicações para ela. Por enquanto, acredito que as maiores aplicações serão nas áreas de telemedicina, telepresença e entretenimento.

Quando essa tecnologia estará disponível para comercialização?

Esse sistema precisa ser melhorado para ser comercializado. Atualmente, a velocidade de captação e geração de imagens é de dois segundos, temos de aumentar a velocidade e conseguir fazer isso em frações de segundo, se quisermos explorar toda a capacidade dessa tecnologia. Também precisamos aumentar o tamanho das imagens. O que conseguimos hoje são imagens de 17 polegadas, mas, se você quiser organizar uma teleconferência em 3D, vai precisar de pelo menos 20cm. A capacidade de cor e a sensibilidade do material também têm de melhorar.

Fonte: Jornal Estado de Minas (http://www.em.com.br/app/noticia/tecnologia/2010/11/04/interna_tecnologia,190332/cientistas-criam-sistema-capaz-de-teletransportar-imagens.shtml)

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